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Pixotes e pichações

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publicado em 02/02/2017 às 16h22

Uma cidade que tem grafiteiros como Shiko e Giga Brow oferece sempre muitos motivos para admirar a arte. Tenho gosto por grafitagem, uma arte viva que dinamiza e suaviza aquilo que temos de mortalmente urbano.

Grafitagem é a filha de um homem negro com uma mulher branca.

Grafitagem é aquele ‘mestiço’ que a sociedade teve a obrigação de aceitar, após excluí-lo bastante. ‘É até bonitinha’, dizem muitos. Eu acho é linda!

Como já disse, tenho gosto por grafitagem. Mas, amo mesmo as pichações. Há pouca ou nenhuma arte nas pichações. Há, todavia, um grito que nos faz lembrar a exclusão social e o inferno econômico de muitos.

A apropriação de espaços públicos para inscrições ‘esquisitas’ trata de me lembrar da invisibilidade a que é submetida grande parte da sociedade. Frases, marcas ou desenhos que parecem desconexos precisam de um pouco mais de atenção analítica…

Diferentemente dos grafiteiros, os pichadores são marginalizados ao extremo. Não se permitiram ‘domar’ como os grafiteiros. Não querem ser artistas. Querem gritar as disparidades e as exclusões nossas de cada dia. Não são rebeldes. São oprimidos.

Gente que não tem visibilidade é que ‘enfeia’ nossas paredes branquinhas. Óbvio que não quero pichadores agindo no muro de minha casa. Óbvio! Não é isso que estou defendendo, ora!!! A sociedade cria pixotes. Pixotes gritam pichações.

Fomento apenas um debate sobre o que querem dizer os ‘garranchos feiosos’ que maculam nossos muros pintadinhos e paredes perfeitas. Penso sempre na opressão e na exclusão. Tente fazer esse exercício de observação. Nunca mais uma pichação será apenas uma pichação frente àquele que criminaliza quem já criminalizado congenitamente…

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