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APÓS ATENTADO

A ‘edição dos sobreviventes’ do Charlie Hebdo

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publicado em 14/01/2015 às 15h37

O satírico Charlie Hebdo voltou às bancas nesta quarta-feira (14). Uma semana após o ataque que matou jornalistas e funcionários da publicação – e que quase representou o assassinato da revista –, novas charges foram publicadas em uma "edição dos sobreviventes", como tem sido chamada.

Desfalcado de cinco importantes cartunistas e longe de sua antiga redação, o jornal chegou ao público com oito páginas, metade do que habitualmente possui. Nelas, desenhos antigos dos mortos no atentado e a tentativa de seguir no jogo, com humor e crítica.

O editor-chefe, Gerard Biard, que estava de férias no dia do ataque, garantiu que este não é o fim do Charlie Hebdo. "Não sabemos ainda como vai ser. Mas teremos revistas, não haverá interrupção", afirmou em conversa com jornalistas na terça-feira (13).

Aguardada por leitores e pela imprensa, a capa da nova edição foi divulgada já na segunda-feira (12), mostrando um profeta choroso, carregando o lema "Eu sou Charlie" e com os dizeres: "Tudo está perdoado".

O desenho da capa foi feito pelo chargista Renald Luzier, o Luz, que se atrasou para a reunião no dia do atentado. Na terça-feira, véspera da publicação, o cartunista chorou ao comentar o processo de criação. "Esta não é a capa que os terroristas queriam que desenhássemos, já que não tem terroristas nela, apenas um homem chorando: é Maomé. Me desculpem por desenhá-lo novamente, mas o Maomé que desenhamos é um homem que, acima de tudo, está chorando", afirmou.

Em uma charge inédita de Bernard "Tignous" Verlhac – uma das vítimas do ataque –, três jihadistas confabulam sobre seus próximos passos. Um deles afirma que "é melhor não enconstar no povo do Charlie Hebdo". Seu companheiro concorda, dizendo que, "caso contrário, esses bastardos vão virar mártires e quando forem pro paraíso vão pegar todas as nossas virgens". Na edição também há desenhos de Georges Wolinski, Jean "Cabu" Cabut e Stéphane "Charb" Charbonnier, todos mortos no atentado.

5 milhões de exemplares

O número 1.178 do Charlie Hebdo só ficou pronto pela solidariedade de outros veículos aos colegas de profissão. A redação do jornal Liberátion acolheu o Charlie Hebdo, oferecendo abrigo durante a edição da revista. A expectativa para sua publicação era tanta que a tiragem inicialmente anunciada de um milhão de exemplares – já muito além dos usuais 60 mil – deve chegar agora a 5 milhões.

A manhã desta quarta-feira foi de filas em Paris. Pessoas aguardavam em frente a bancas fechadas para adquirir a "edição dos sobreviventes" do Charlie Hebdo. Antes das 8 horas locais, os pontos de venda da revista já exibiam avisos como "não temos mais o Charlie Hebdo". A imprensa local afirma que, apenas na primeira parte do dia, já passavam de 700 mil unidades comercializadas.

A Messageries Lyonnaises de Presse (MLP), distribuidora da publicação, pediu paciência aos leitores. Além de confirmar a ampliação da tiragem para 5 milhões, afirmou que novas levas da revista serão comercializadas na quinta e na sexta-feira. A venda desta edição está programada para durar dois meses, sendo exportada para mais de 20 países.

Os ataques

Os ataques extremistas, que começaram no jornal satírico Charlie Hebdo, na quarta-feira (7), em Paris, e prosseguiram com a invasão de um supermercado também na capital francesa, fizeram 20 mortos, entre os quais três agentes das forças de segurança. Os três autores dos atentados também foram mortos.

Nesta quarta-feira, a autoria do ataque ao jornal foi assumida pelo grupo Al Qaeda na Península Arábica (AQPA), com base no Iêmen. Em vídeo sobre o que chamam de "batalha sagrada de Paris", o líder da organização, Nasr bin Ali al Anesi, reivindica a responsabilidade do ato, afirmando que "quem escolheu o objetivo e o planejou, financiou e designou seus autores são os líderes desta organização".

G1

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