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Professor de História pela UFPB e analista político

O primeiro debate

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publicado em 23/08/2016 às 10h42

Aconteceu ontem (22/08) o primeiro debate entre os candidatos a prefeito de João Pessoa realizado pela TV Master. Na coluna de hoje, farei uma análise do desempenho de cada um.

Cida Ramos

Se o PSB de João Pessoa apostava nos debates como um dos meios, além do guia, para diminuir a diferença entre sua candidata Cida Ramos e o prefeito e candidato à reeleição, Luciano Cartaxo, deve ter diminuído as expectativas depois do primeiro realizado, ontem (22/08), na TV Master.

Cida Ramos mostrou-se insegura e, pior, parece que não fez o dever de casa, que era estudar a cidade, sua estrutura administrativa, seus planos diretores. Enfim, manteve-se nas generalidades quando o tema do debate exigia aprofundamento e domínio sobre as suas particularidades.

Um exemplo? Quando o candidato do PT, Professor Charliton, perguntou o que ela achava da cidade de João Pessoa não ter atualizado por mais de 30 anos um Plano de mobilidade – o último, segundo ele, foi elaborado na administração Damásio Franca, − Ramos deitou falação sobre as dificuldades de quem usa o transporte público em João Pessoa, sem se referir ao objeto do questionamento do petista.

Se conhecesse a fundo o problema, Cida Ramos poderia de explicitado suas ideias a respeito do planejamento urbano e o papel cada vez mais decisivo da mobilidade urbana para projetar o futuro da cidade com mais qualidade de vida, não esse caos que João Pessoa vive hoje.

Resultado: na réplica, Charliton chamou a atenção para o fato da candidata do PSB não ter respondido sua questão, e explicou em seguida de maneira quase didática do que se tratava, deixando claro que Cida Ramos não dominava o assunto, fato que a candidata não contestou na tréplica.

Enfim, nesse primeiro teste, a candidata do PSB não conseguiu transmitir ao eleitorado ideias claras e consistentes a respeito do seu propalado “projeto de cidade” e que o governador Ricardo Coutinho consegue defender tão bem.

Recomenda-se também a candidata Cida Ramos preocupação com o tempo das respostas, o que exige raciocínio rápido e concisão. Por várias vezes, a socialista teve sua fala cortada porque não foi capaz de terminar sua resposta no tempo estabelecido.

Além disso, que evite ler as perguntas. Isso transmite a sensação ao eleitor de que não foi a candidata que as elaborou e que, principalmente quando a pergunta traz dados, novamente não domina o assunto.

Luciano Cartaxo

No debate de ontem, o prefeito de João Pessoa e candidato à reeleição, Luciano Cartaxo, compensou as limitações de sua administração com a experiência de quem foi vereador por vários mandatos em João Pessoa, deputado estadual por dois anos, candidato a prefeito e prefeito no exercício do mandato.

Essa experiência oferece a qualquer um cancha para sair de saias justas em debates como o de ontem, mesmo que, em algumas ocasiões, o prefeito não tenha conseguido esse intento. Darei um exemplo mais a frente.

Cartaxo não agregou pontos, mas não saiu do debate como perdedor. A razão disso pode ser creditada a atitude dos outros dois candidatos, Professor Charliton e Victor Hugo, de não ter o prefeito como único a merecer ataques, tendo Cida Ramos recebido o mesmo tratamento dos dois.

Ou seja, não se formou uma frente de ataque a Cartaxo como era a expectativa do PSB, o que é um fato a ser comemorado pelo prefeito nesse início de campanha.

Nem o PT nem o PSOL parecem dispostos a atuarem como linhas auxiliares da candidata do PSB e a razão disso, especialmente no caso do petista, tem a ver com a aliança de Cida Ramos, que incluiu, tanto quanto a aliança que dá suporte a Cartaxo, partidos considerados “golpistas”, alinhados nacionalmente ao governo Temer (Dem, PTB, PPS) e representantes das oligarquias.

Um dos raros momentos de dificuldades do prefeito foi protagonizado mais uma vez pelo Professor Charliton, que começou com uma pergunta aparentemente singela: quantas ruas a administração Cartaxo pavimentou ao longo da atual gestão.

Cartaxo saiu pela tangente, preferindo falar em “quilômetros” de ruas, sem precisar se tais ações eram destinadas aos bairros que ainda sofrem com ruas esburacadas, na lama e na poeira.

O dado apresentado em seguida pelo petista foi desconcertante: segundo a própria prefeitura, a atual administração pavimentou pouco mais de trinta ruas, quando a “promessa de campanha” eram 600!

No debate sobre o BRT, outra promessa não cumprida do prefeito, Charliton reagiu mais ou menos assim diante da justificativa de Cartaxo, que responsabilizou o governo federal por não ter liberado o recurso: além da prefeitura não ter cumprido o prazo no envio do projeto, em razão de vícios no edital identificados pelo TCE, e os recursos estarem disponíveis, a justificativa do prefeito deixa claro que os projetos de sua administração que deram certo (creches, habitação, etc.) só se viabilizaram por serem de iniciativa do governo federal.

Charliton Machado

O candidato petista foi a grande surpresa do debate. Conhecido do publico pelas entrevistas a rádios e TVs como presidente estadual do PT, Charliton, assim como Cida Ramos e Vitor Hugo, é um estreante em disputas eleitorais.

O debate realizado pela TV Master mostra que Charliton passou nesse que é um teste de fogo para qualquer candidato.

Como bom professor que é, Charliton quase sempre respondeu as perguntas dentro do tempo estabelecido, o que é uma boa demonstração de capacidade de síntese e domínio do tempo, atributo essencial quando se trata de transmitir ideias sob a pressão de uma campanha eleitoral, ainda mais na TV e na frente dos adversários.

Além disso, na maior parte do tempo, e considerando a superficialidade desses debates televisivos, o petista mostrou serenidade, foi agressivo sem passar do ponto, irônico sem mostrar desprezo pelo adversário, e, mais importante, que se preparou para ser candidato, ou seja, estudou não apenas a cidade, mas o desafio que é administrá-la.

Charliton foi beneficiado, claro, porque não recebeu ataques dos principais adversários (Cartaxo e Ramos), que tanto esperam pelo apoio do seu eleitorado em um possível segundo turno como não desejam inseri-lo no campo do debate de uma polarização artificialmente criada pelos estrategistas das duas campanhas.

Se o desempenho demonstrado ontem pelo Professor Charliton for mantido no próximo debate, a ser realizado agora pela TV Arapuã, e no guia eleitoral, o petista se projeta para crescer e − quem sabe? − disputar com Cida Ramos o segundo lugar e, portanto, a segunda vaga no segundo turno, já que uma delas, caso realmente aconteça, é do atual prefeito.

Victor Hugo

O candidato do PSOL padeceu com dois problemas que ficaram claros no debate. A falta de clareza programática que o identifique como candidato que fala para um eleitorado mais à esquerda e seu esforço de se constituir como candidato do servidor público.

Isso ficou claro na formulação das perguntas e na preocupação constante em trazer o governo estadual para o centro do debate.

Se Victor Hugo pretende ir além de ser um candidato de um nicho eleitoral, tem de superar essas limitações. E é recomendável que se prepare melhor para os próximos debates.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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