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Professor de História pela UFPB e analista político

A aliança anti-Ricardo

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publicado em 27/07/2016 às 10h13

Ainda falta o PMDB sacramentar o apoio à reeleição de Luciano Cartaxo, do PSD, o que só vai acontecer quando José Maranhão der suas bênçãos e ungir o futuro candidato a vice da chapa, mas já não são poucos aqueles que comemoram por antecipação a reeleição do atual prefeito pessoense.

Marcondes Gadelha, por exemplo, já ensaiou um verso de pé-quebrado para cantar loas à vitória inevitável de Cartaxo no evento que ontem serviu para anunciar o apoio do PSDB ao ex-petista, que, por tabela, recebeu também o do PSC, cujo dono na Paraíba é a família Gadelha e, no Brasil, a Igreja Universal.

Mas, é bom Cartaxo, Cássio, Maranhão e Cia. diminuirem a ênfase no discurso do “já ganhou”, principalmente quando do outro lado está Ricardo Coutinho.

As experiências de 2010 e 2014 não foram pedagógicas o suficiente para tucanos e peemedebistas coloquem hoje as barbas de molho. Naquelas eleições, Maranhão e Cássio também exibiram o salto alto e na reta final tropeçaram numa queda que foi proporcional à altura em que os dois achavam que estavam.

A tal ponto que os dois ex-adversários se unem hoje para derrotar RC. E esse é um fato que merece ser apreciado em maior detalhe.

Para começar, ao invés de força, essa junção de forças pode revelar a fragilidade de todos esses partidos e lideranças caso vistas separadamente.

De Cartaxo, que se mostrou incapaz de bancar com as forças que dispõe uma disputa e ser obrigado a entregar os anéis para tentar evitar uma derrota que pode ser fatal para seu futuro de liderança estadual.

Hoje, com menos de 50% de intenções de voto, isso quase sozinho para divulgar a si próprio e sua administração, Cartaxo sabe do perigo que corre caso aconteça um segundo turno em João Pessoa.

Nesse caso, com pouco tempo para reverter a tendência, as expectativas de vitória, que hoje são do atual prefeito pessoense, inverteriam-se em favor dos seus adversários.

Reflitamos: caso a candidatura de Cartaxo fosse mesmo tão imbatível assim, o prefeito marcharia para a disputa com um vice por ele indicado, o que lhe asseguraria as condições para, em 2018, almejar a disputa do governo estadual.

Aliás, como era seu projeto desde o início. E que levou Cartaxo a não propor um acordo explícito com RC para sua reeleição nas conversas que se concluíram com o apoio de Cartaxo à reeleição do atual governador, em 2014.

Cartaxo sabia que esse acerto implicaria na indicação da vice do PSB, e isso seria um limitador para seu projeto político.

Ou seja, o prefeito pessoense quis voar além de onde suas asas podiam lhe levar e acabou aterrissando nos braços de Cássio Cunha Lima, com quem quis se aliar já em 2014, mas que ajudou a derrotar em seguida, apoiando seu atual adversário, Ricardo Coutinho.

Coisas desses ziguezagues que enfeiam a política a cada dia e dizem muito de interesses particulares e muito pouco a respeito do interesse público.

Hoje, Cartaxo e Cássio estão juntinhos como pombinhos a dividirem o mesmo galho e aquele adágio segundo o qual “quem não tem cão, caça com gato” passa a prevalecer na lógica política cartaxista.

Por isso mesmo, será um maranhista-peemedebista seu vice, o que significa que Cartaxo, caso vença a disputa, terminará seu segundo mandato sem disputar o governo estadual, como era seu projeto original.

Quem conhece minimamente Cartaxo sabe que ele jamais renunciaria ao cargo para entrar nessa disputa, entregando de bandeja a PMJP ao PMDB.

Cartaxo, PMDB, PSDB, Temer…

2016 será a primeira eleição após a hecatombe política gerada pela Lava Jato, que desvendou apenas uma parte dos meandros do funcionamento do sistema político brasileiro, mesmo com o foco exclusivamente no PT.

Quase todos os partidos se viram envolvidos pelos tentáculos do financiamento empresarial de campanha e das promíscuas relações entre partidos políticos e Estado.

Não há ainda como projetar qual será o comportamento do eleitorado diante desse novo quadro quando ele realmente se dedicar a pensar com seriedade seu voto.

Quando saiu do PT, Cartaxo viu apenas a circunstância, sem projetar as tendências que o futuro apontava. E o futuro já chegou faz algum tempo.

A principal liderança do PSDB e seu presidente nacional, Aécio Neves, está mais enredado do que qualquer outro político, sendo recordista em menções nas tais “delações premiadas”. Isso sem Aécio ser investigado.

O PMDB, nem se fala. Além das demissões em série de ministros acusados de corrupção, o “presidente interino”, Michel Temer − que agiu diretamente para viabilizar o apoio de Manoel Jr., o amigão de Eduardo Cunha, e de José Maranhão, – está envolvido até o pescoço em denúncias de corrupção, protegido, como sempre, pela grande mídia.

Será isso que Cartaxo também agregará a sua campanha, além do apoio das máquinas desses partidos e seus tempos de TV: o “espólio” ético do PMDB e do PSDB numa conjuntura onde esse debate ganhou muita relevância, o desgaste político de um governo federal cada vez mais impopular e comprometido com mudanças na legislação que atacam direitos dos trabalhadores e dos mais pobres, além da identificação, também crescente, com um impeachment feito sem que fossem respeitadas as regras democráticas.

Os próximos dois meses dirão se as tais realizações da administração Cartaxo prevalecerão sobre a realidade crua dessa aliança que se formou apenas para evitar a vitória de Ricardo Coutinho no maior colégio eleitoral da Paraíba.

Por enquanto, Cartaxo continua favorito. Mas ele terá ainda de atravessar o deserto de uma campanha que promete ser dura. E imprevisível.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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