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Eu amo guache

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publicado em 06/06/2016 às 09h55

Guache é uma tinta diluída em água. Algumas vezes, misturada a certos aglutinantes, como o mel. Há fluidez na tinta guache. Há dulcidão. Fluidez e dulcidão que podem ser arteiras e revolucionárias. Esta semana, manifestação de mulheres contra a cultura do estupro teve uma performance marcante, na praia de Tambaú, em João Pessoa. Mulheres pintaram de vermelho o letreiro ‘Eu Amo Jampa’. Rebeldia guache.

Uma performance leve contra o horror dos estupros nossos de cada dia. Guache fluida e doce contra o estupro coletivo cometido contra uma adolescente no Rio de Janeiro. Guache simbólica para o sangue derramado das mulheres estupradas. Não houve depredação do patrimônio público. Guache sai muito fácil. O monumento não foi destruído. Não foi deteriorado. Não foi estragado nem arruinado. Não foi inutilizado nem ficou imprestável.

Houve um protesto contra o machismo e a violência contra a mulher, colocando sob holofotes uma necessidade emergencial de todas as mulheres, diante de um panorama de extrema violência e abuso sistemático. O protesto feito no coração da classe média branca da Capital fez-me ver (de novo) que a sociedade não está nem aí para os estupros e que dá de ombros para o feminismo.

Espanta verificar as redes sociais e saber que muita gente (!!!) critica a manifestação. Gente que não demonstra nenhuma indignação com relação ao estupro, mas se indigna com o ‘dano ao patrimônio’. Gente, inclusive mulheres (!!!), que fez questão de comparar os crimes. “Um crime não justifica o outro”, disseram muitos. Sinceramente, se fôssemos comparar, teríamos que guachear todo o patrimônio público! Não vamos comparar, todavia… A tinta guache sai na primeira chuva…

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