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Repórter de esportes e de política. Atualmente em Rádio Arapuan. Antes, Sistema Correio de Comunicação, Rede Paraibana de Notícias e Blog do Gordinho. Neste espaço, opinião, informação, entrevistas e bastidores. Contato com a Coluna: [email protected]

Entrevista

Ex-homem forte do futebol abre caixa preta do Treze

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publicado em 29/05/2016 às 06h02
atualizado em 26/06/2017 às 09h43

Sem calendário para o restante de 2016, fora das principais competições de 2017 e financeiramente à deriva. Para entender a derrocada do Treze nos últimos três anos é preciso voltar no tempo. Mais precisamente novembro de 2013. Após o acesso à Série B bater na trave contra o Vila Nova-GO, a alta cúpula alvinegra decidiu dar continuidade ao trabalho do jovem técnico Luciano Silva para 2014 – a quem se atribui à reviravolta da equipe naquela Série C. A renovação, inclusive, chegou a ser anunciada pelo então diretor de futebol José Wilton. Dois dias depois, entretanto, tudo mudou e o presidente Eduardo Medeiros e o vice Hênio Galdino desfizeram o acerto. O experiente Leandro Campos era anunciado numa decisão particular da dupla. O episódio culminou no afastamento de José Wilton e de Pedro da Percon (diretor de patrimônio) e no inicio da decadência trezeana.

Quase três anos depois, o ex-homem forte do futebol do Galo, o empresário José Wilton abriu o jogo à coluna. Em uma conversa de 30 minutos, por telefone, Zé (assim conhecido no meio), falou sobre sua saída; a relação com Eduardo Medeiros; o atual momento do clube; e revelou: ‘’O Treze chegou rachado para o jogo contra o Vila Nova-GO.’’.

Wilton ainda atestou: ‘’O maior problema do Treze não é financeiro e sim a ciumeira de macho.’’.

Já são quase três anos de sua saída do Treze. Como, de fato, ela se deu?
Sai muito aborrecido. 2013 foi um ano muito bom para o Treze, tanto para o patrimônio quanto para o futebol. Logo após nossa participação na Série C, reuni os sete diretores (empresários) em um restaurante da cidade. Alias, só não estava o Luiz Augusto, mas ele havia ligado e disse: o que for decidido estará apoiado. Isso numa quinta-feira. Por unanimidade, todos decidiram pela permanência de Luciano (Silva). Então, à noite, me encontrei com Eduardo, Hênio e Luciano. Deixamos tudo acertado. Tanto é que, na sexta, liguei para então Rádio Clube e anunciei a renovação. Também disse que pagaria dobrado qualquer débito que o Treze tivesse de 2013. Não apareceu um. Quando chego sábado de manhã no PV, para tomar meu uísque (é um costume que eu tinha) e tratar das renovações dos jogadores com o Joba (Josimar Barbosa, gerente de futebol), fui pego de surpreso com um zum zum zum. Um rapaz perguntou se eu já estava sabendo da novidade. Respondi que não. Havia dito que Eduardo e Henio se reuniram e contrataram Leandro Campos. Pois quem mandaria no Treze seriam eles. Peguei a chave do meu carro e nunca mais voltei.

Muitos atrelam este episódio ao inicio da crise do Treze. Realmente teve todo esse peso?
Lógico. Esse povo conseguiu tirar os sete homens de bem do Treze. Eu, modéstia à parte, Luiz Augusto, Pedro da Percon, Vamberto, Dr. Nelbi, Ivandro Filho… Ivandro ainda ficou para 2014, mas depois fizeram uma sacanagem com ele. A derrocada começou aí. Deixamos o Treze com quatro competições: Campeonato Paraibano, Copa do Nordeste, Copa do Brasil e Série C. Tudo organizado, sem dever nada a ninguém.  Para você ter ideia, fui diretor do Treze em duas oportunidades nesse período de 40 anos que vivi intensamente o clube. Quando não dentro, mas ajudando. Em 2012, o Treze iria ser rebaixado no ultimo jogo contra o Luverdense, em Lucas do Rio Verde. Ninguém iria viajar. O Treze jogava fora e não ia nenhum diretor. Eu perguntava: Rapaz, não vai ninguém? Foi na época que o Pedro da Percon deu o dinheiro do lateral Aderlan. Tá lembrado, né? Pagamos uma folha de cento… cento e poucos mil para levar o pessoal para lá. Então, peguei e fui. Paguei a passagem do meu bolso. E aí você sabe o resultado da partida. Livramos o clube do rebaixamento.

Antes de você assumir a direção de futebol, seu nome chegou a ser cotado para presidente
Assumi a direção de futebol em 2013, fizemos uma reunião, conversei com meus amigos e ficou acertado. Eu iria ser o presidente, mas não. Deixei quieto. Sou uma pessoa muito ocupada. Seria melhor a direção de futebol. Tracei o planejamento com Joba e não fomos campeões por um acaso. Chulapa se machucou na decisão, pois até então éramos melhores na partida (contra o Botafogo-PB). O rival havia sido campeão da Copa do Nordeste e diziam que iam meter sete, oito… E eu caladinho trabalhando, no fim ficaram sem nada. Depois Vica quis mudar tudo e eu não gostei. Não queria mais para Série C e Eduardo segurou, falou muita merda. Conseguimos tirá-lo e colocamos Luciano. De cinco pontos fomos a 33.

Quem foi Eduardo Medeiros no Treze?
Ele conseguiu me afastar do Treze. Eu como diretor de futebol, todos os diretores unidos e depois de batido o martelo, ele desfazer uma decisão? Não existe. Não sou moleque. O planejamento estava feito, as renovações encaminhadas, tudo pago. Fiz a coisa certa. Primeiro fiz a reunião com todos os diretores, só não estava o Luiz Augusto, mas ele havia ligado e dado o apoio para nossa decisão. O resultado foi 8 a 1 para permanência de Luciano. O único voto contra foi o de Wladimir (Borborema). O Treze em 2014 era clube de Série B. Eu tinha certeza absoluta que o Treze subiria em 2014. Estava estruturado. Faço as coisas bem feitas, cumprindo todos os compromissos. E outra coisa: Não subir o Treze porque ele já chegou rachado para o jogo contra o Vila Nova. Cheguei de manhã em Goiânia e não tive acesso aos jogadores. Eu diretor de futebol não tive nem acesso. Estava lá o presidente com uma bandeira enrolada no pescoço, fazendo reuniões e mais reuniões… Perguntei a mim mesmo: Pô, caramba, o que tá acontecendo aqui? Mas eu fiquei na minha. Deu no que no deu. O time não jogou.

Foi uma proibição?
Não foi propriamente uma proibição. Mas quando cheguei ao hotel não tive acesso aos jogadores, não pude conversar com eles porque já estava tudo acertado. Resultado: O Treze estava rachado. Tanto é que, o Treze não jogou nada. Hudson não jogou nada. O próprio Cristian também não jogou. Não entendo porque não pude ter acesso aos jogadores. Eles gostavam de mim. Era a maior festa quando me viam no vestiário, me jogavam para cima. Era uma alegria total.

Você tem contato com a atual gestão?
Não tenho contato com nenhum. Alias, só com Petrônio, que ainda me ligou umas duas vezes, mas falei que não quero mais me envolver. Um colocou o Treze na justiça cobrando 300 mil (Luiz Malibu), o outro saiu (Eduardo Medeiros) também já colocou. Sabe de uma coisa? Não vale a pena. Não fui mais nem em jogo. Esse ano, por exemplo, não fui a nenhum. Nem amistoso. Mas o Petrônio é homem de bem. Gente boa. É meu amigo. Todos gostam dele. A decadência do Treze se deu em 2014. Foi só problema. 2015 foi mais problema e 2016 foi isso aí. O Treze ficar em sexto lugar no Paraibano? Não existe. Nem quando Bill Roupeiro foi presidente do Treze, o time ficou em sexto lugar. Estou muito desgostoso. Para você ter ideia, quando assumimos em 2004 e fomos bicampeões paraibanos, 5º lugar do Brasil, vitórias e mais vitórias em cima do Campinense, era o mesmo grupo de 2013. Quando sai do Treze em 2007 mostrei para todo mundo que o Treze era uma empresa. Saneamos o clube, pagamos 40 ações que corriam na justiça. O Treze tinha talão de cheque. Passaram os anos e quando foi no fim de 2012 assumimos novamente. Colocamos a casa em ordem. Esse povo que está aí conseguiu tirar eu, Luiz Augusto, Ivandro, Cássio Cunha Lima, Vamberto… do conselho do Treze. Existe isso? Há uma ciumeira muito grande, pois toda vez que assumimos o Treze as coisas deram certo. É complicado.

É complicado comandar o Treze?
Veja bem. O nosso futebol é deficitário demais. Se não tive uma pessoa ou várias pessoas que trabalhe, que gaste mesmo… Você sabe disso. Não se faz futebol sem dinheiro. Futebol é caro. E o nosso grupo era unido. Quando o Treze jogava fora iam três, quatro, cinco diretores. Mas, infelizmente, fazer o quê.

O Treze, pelo momento que atravessa, tem solução?
Claro que tem. O Treze é time grande. É time de massa. Esse nome tem história. O maior problema do Treze não é financeiro e sim a ciumeira de macho. Por exemplo, em 2009, quando o Marcelo (Nobrega) era presidente, só não fomos campeões contra o Sousa, porque gostaria de ajudar e ele não permitiu para não dividir os louros da conquista. É isso que complica o Treze. É foda.

Você se vê um dia novamente no clube?
O Treze é minha família. Nunca vou desistir dele. Agora tem momentos que repenso: será que eu sou um cachorro? Por tudo que foi feito em 2013. Todo mundo unido, folha de pagamento em dia. Se você analisar direitinho, quando coloquei Vica para fora e Eduardo não queria, concedi uma entrevista para Vieira Júnior (Rádio Clube) afirmando que no futebol quem manda é José Wilton. Ele (Eduardo) mandaria fora do futebol. Agora se quer me demitir, que tivesse pedido o cargo. Depois ele veio com isso e aquilo. Enfim, passou. Se eu fosse um cara mal educado teria assinado com Luciano sem falar a ninguém. Mas fiz uma reunião com todos os diretores e depois com o próprio Eduardo. Não sou vagabundo, não, amigo.

Eleições no fim do ano
Eu não digo a você que seis ou sete (ex-diretores, empresários) voltariam. Mas Luiz Augusto, o Ivandro, o menino da Dias… uns três ou uns quatro estariam comigo. Temos uma amizade muito grande. Só que a situação do Treze não é boa. Terá de recomeçar tudo de novo. Só vai ter o Campeonato Paraibano ano que vem.

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