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Professor de História pela UFPB e analista político

PSB: Uma nova conjuntura, um outro perfil

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publicado em 27/04/2016 às 13h42

O anúncio da substituição do candidato do PSB à Prefeitura de João Pessoa, João Azevedo, responde, antes de mais nada, à mudança no humor do eleitorado brasileiro, e pessoense em particular.

O estilo gerente de João Azevedo não resistiu à conjuntura de radicalização política que se consolida no Brasil a cada dia e que tende a se aprofundar quanto mais se aproxima o fatídico dia em que, como tudo indica – o PMDB e a oposição foram longe demais para pensar agora em recuar, − Dilma será afastada da Presidência para dar lugar a um governo peemedebista.

Uma nova conjuntura

Quem acha que isso acalmará os ânimos dos brasileiros está redondamente enganado. Ao contrário. O afastamento levará de volta para oposição os partidos de esquerda, arrastados por movimentos sociais e amplos segmentos que defendem a democracia, e se opõem a que um partido como PMDB, com toda a simbologia nefasta que esse partido representa no espectro político nacional, governe o país.

A qualificação de “golpe” para o impeachment tem um alcance que transcende a luta para evitar que o afastamento de Dilma Rousseff prospere. Ela seguirá depois que o impeachment for aprovado, porque não se trata de uma mera “narrativa”, como se a história fosse apenas um embate entre discursos.

Já se foi o tempo em que a história era apenas a história dos vencedores. Há uma materialidade inesgotável que articula passado e delineará o futuro, mesmo que não saibamos exatamente para onde estamos indo.

O Brasil vive um golpe. E vive um golpe porque Dilma perdeu a maioria no parlamento e, desde a eleição passada, ficou clara a quase unanimidade dos meios empresariais contra a continuidade do PT no governo.

Aliás, a proposta de afastar Dilma nasceu imediatamente após a apuração das urnas e a proclamação do resultado, sem nenhum crime de responsabilidade, apenas pelo desejo de não reconhecer mais uma decisão da maioria. Esperar mais quatro anos, com o fantasma da volta de Lula assombrando esses setores, era impensável.

Portanto, se não fossem as “pedaladas” qualquer outro “crime” serviria, porque se trata apenas de oferecer alguma legitimidade ao que é, na verdade – e a imprensa internacional, através de seus correspondentes estrangeiros, é quase unânime em reconhecer o fato – uma ruptura com as regras do jogo. E nenhuma democracia funciona desse jeito.

Um golpe branco, parlamentar, suave. Um golpe. E se é isso mesmo, como reconhecer um governo que tomou de assalto o poder através de um golpe?

Um período de radicalização política, talvez único em nossa história, está prestes a se abrir, com consequências ainda difíceis de serem previstas.

Um outro perfil

Numa conjuntura como essa que se vislumbra é preciso muito mais do que a trajetória de técnico competente, e esse atributo ninguém roubará de João Azevedo. Se ele desejar alçar voos mais altos na política o campo estará aberto em 2018.

O problema para ele é que a conjuntura mudou e as diferenças políticas – e até ideológicas – ganharam relevo. E João Azevedo, pela sua trajetória e por sua formação, deixa de ter um perfil adequado aos novos tempos.

E essa mudança realmente deve ser saudada. Vivíamos na política brasileira uma acomodação que mais se assemelhava a uma “paz dos cemitérios” em razão do arranjo que deu suporte aos governos petistas, que incluía partidos e lideranças conservadoras que, ao primeiro sinal de fragilidade, pularam fora do barco. Um governo de esquerda sob a pax do mercado.

O mundo e não apenas o Brasil parecem ter se enchido de tudo isso. Vejam o que acontece hoje nas prévias democratas dos EUA. Um candidato de esquerda como Bernie Sanders, criticando abertamente Wall Street, era impensável há algumas décadas. Hoje, se fosse candidato, Sanders venceria as eleições. A Grécia, com o Syriza, e a Espanha, com o Podemos, expressam à sua maneira o renascimento da política com toda as sua força. O curso da história é irreprimível.

Por isso, uma candidata com uma trajetória política de maior identidade com as causas com as quais se alinham hoje os socialistas do PSB na Paraíba, sob a liderança do governador Ricardo Coutinho, é mais que uma necessidade, e não apenas para ganhar a eleição.

E notem que eu falei propositadamente “candidata”. Isso porque os dois perfis que mais se aproximam do descrito acima entre os socialistas são o da deputada estadual Estela Bezerra e o da professora Cida Ramos.

Ambas com larga experiência política e formadas − ou temperadas − no caldo quente das lutas sociais, assim como foi a trajetória do governador Ricardo Coutinho antes de entrar para as disputas eleitorais.

Não apenas isso. As duas tem também experiência administrativa, o que confere um traço que as valoriza ainda mais, numa junção de elementos que podem ser úteis na construção de uma identidade eleitoral que precisa falar e ir além do eleitorado de esquerda.

Estamos entrando em maio e o PSB muda a tempo de evitar o fato consumado de ir para a disputa com um candidato cujo discurso tenderia ser anódino, técnico e gerencial, num ambiente político em que as diferenças terão de ser necessariamente expostas.

Com Estela ou Cida esse caminho fica delineado. Resta saber na base de qual aliança.

Esse assunto ainda vai render muito.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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