João Pessoa, 14 de fevereiro de 2016 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
O remelexo de Panqueca na avenida Duarte Silveira e uma bateria que tomava conta do meu coração e de minha mente fizeram-me torcedor da escola de samba Malandros do Morro. Nasci no bairro da Torre, em João Pessoa. E ter uma escola de samba campeã em meu bairro sempre foi motivo de ostentação…
A Malandros tem títulos e muita história. Tem link permanente com a comunidade e, mais que tudo, historicamente, tem integrantes amalgamados ao processo de construção de conquistas e avanços sociais. João Balula, a quem somente conheci no início da década de 1990, foi um desses.
Negro. Pobre. Gay. E com coragem para encarar a sociedade hipócrita e opressora. Balula morreu após o carnaval de 2008. Deixou saudade e ainda faz muita falta nos movimentos sociais. Foi homenageado pela Malandros do Morro no ano seguinte à sua morte, sendo tema do samba-enredo.
Este ano, a Malandros foi para a avenida para festejar os 60 anos da escola. Foi campeã (embora a Unidos do Róger tenha sido bem melhor). Vibrei com o título, mas lamentei o esquecimento da figura de Balula, que não poderia deixar de ser mencionado. Conforme a escola, uma ala com negras simbolizou a luta de Balula. Para mim, a homenagem não foi ‘clara’…
Quem me abriu os olhos para esse ‘esquecimento’ foi o jornalista Chico Noronha, que integrou a comissão julgadora do Carnaval Tradição. Chico Noronha é um chato (ainda bem!!!) quando o papo é racismo, homofobia e exclusão. Aprendamos com ele e sejamos todos muito chatos na hora de cobrar igualdade, inclusão e respeito histórico por aqueles que ajudaram e ajudam na construção de uma sociedade mais justa.
Podcast da Rede Mais - 23/04/2024