João Pessoa, 23 de janeiro de 2016 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Fui visitar um amigo no Cabo Branco, bairro nobre de João Pessoa. Coisa rápida. Encontro de trabalho. O prédio onde o amigo mora tem um apartamento por andar. Fica a uns 100 metros da praia.
Resolvo o que preciso resolver. Me despeço. Desço. Do lado de fora do prédio, enquanto subo em minha moto, olho para cima e vejo meu amigo na varanda. Ele acena e faz sinal de positivo com o polegar.
Neste exato momento, para um homem em um carro de luxo bem em frente ao edifício onde mora meu amigo. Ele baixa o vidro elétrico. Olha para meu amigo. Desce do carro e grita ‘simpaticamente’ olhando para a varanda: “Você trabalha aqui????”
Meu amigo escuta, mas parece não acreditar: “Como?”, diz ele, com ar de surpresa. O macho-adulto-branco-sempre-no-comando repete a pergunta: “Você trabalha aqui?”. E complementa: “Estou procurando apartamento”.
Meu amigo não responde à pergunta feita no primeiro momento, mas – educadamente – orienta o rapaz a procurar a portaria, destacando que seria possível haver com o porteiro a informação sobre imóveis para locação ou venda.
O macho-adulto-branco-sempre-no-comando agradece com um sorriso. E vai até a portaria. Acelero e vou embora. Nem sei que informação ele recebeu. E torço para que não encontre imóvel no edifício onde meu amigo mora…
Meu amigo é negro. E somente recebeu a indagação dessa forma (‘Você trabalha aqui?’) por ser negro. Fosse branco e escutaria: “Boa noite, senhor. Desculpe-me por incomodar… É bom morar aqui?”.
Impressionante como brancos conseguem ser simpaticamente racistas e como a ‘casa grande’ não admite que os negros saiam da ‘senzala’… Lugar de negro é onde ele sonhar. Lugar de negro é onde ele quiser!
Podcast da Rede Mais - 17/04/2024