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DILEMA

Homem vende rim online por R$ 20 mil para pagar dívidas

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publicado em 11/08/2015 às 17h00

A chinesa Lian Ronghua, de 51 anos, se deparou no início do ano com o pior dilema que uma mãe pode imaginar: escolher qual de seus filhos poderia morrer.

Ambos sofriam de uremia, uma condição que leva à falência dos rins. Mas a mãe poderia doar apenas um dos seus dois órgãos e o pai deles foi proibido de doar porque tem pressão alta.

No pequeno apartamento alugado da família, Lian se emocionou ao contar a história à BBC.

“Eu não sei por que meus dois filhos estão doentes”, disse ela, com lágrimas no rosto. No final, não foi ela quem tomou a decisão.

Seu filho mais velho, Li Haiqing, de 26 anos, achou que o irmão de 24 anos, Haisong, deveria receber o rim da mãe.

“Eu quis dar o rim para o meu irmão porque ele é mais novo e tem mais chance de se recuperar”, disse Haiqing, que foi forçado a desistir dos estudos de medicina por causa da doença.

“Claro que eu espero ganhar um rim antes que seja tarde demais. Mas se eu não conseguir, vou continuar fazendo hemodiálise”, disse.

Mas ele tem poucas chances de conseguir um transplante, já que a China sofre com uma grande escassez de órgãos.

Por anos, eles aproveitaram órgãos de prisioneiros mortos para atender a demanda.

Mas, após condenação internacional, Pequim afirma que acabou com a prática no início do ano – embora autoridades admitam ser difícil garantir que a regra está sendo cumprida.

Agora, o governo diz que só usará doações voluntárias.

O país montou um banco nacional de órgãos que, em tese, deveria distribuir órgãos para aqueles que são mais compatíveis e precisam mais.

Mas, críticos afirmam que o sistema está sujeito a abusos e que pessoas com influência poderam furar a fila.

O maior problema para o governo, porém, é a fase anterior a esta: convencer possíveis doadores.

Muitos chineses acreditam que o corpo é sagrado e deve ser enterrado intacto em sinal de respeito aos ancentrais.

Em grande parte por essa razão, as taxas de doação do país estão entre as menores do mundo – 0,6 doação por milhão de pessoas. Na Espanha, por exemplo, são 37 por milhão.

No Brasil, no ano passado, foram 14,2 doadores por milhão, de acordo com a ABTO (Associação Brasil de Transplantes de Órgãos).

‘Meu rim não estava mais lá’
O governo da China diz que mais de 12 mil transplantes serão realizados neste ano – um número maior do que o da época em que órgãos de prisioneiros eram utilizados.

Mesmo assim, com estimadas 300 mil pessoas na fila da doação, a demanda fez surgir um bem-sucedido mercado negro.

Após semanas de investigação, um jovem de 21 anos que afirma ter vendido um rim concordou em falar com a BBC desde que sua identidade fosse preservada.

Levantando sua camiseta, ele mostra a cicatriz da operação.

O jovem diz que vendeu um rim por cerca de 4 mil libras – aproximadamente R$ 22 mil – para pagar dívidas de jogo.

A venda do órgão teria sido acertada pela internet.

“No início fui levado para um hospital, onde tiraram amostras de sangue e fizeram exames”, diz.

Fazendas-hospital
“Depois esperei em um hotel por várias semanas até que os traficantes de órgãos acharam uma pessoa compatível.”

“Então, um dia, um carro veio me buscar. O motorista disse para eu colocar uma venda nas olhos. Dirigimos por cerca de meia hora por uma rua esburacada.”

“Quando tirei a venda percebi que estava em uma fazenda. Dentro havia toda uma estrutura de hospital montada. Médicos e enfermeiras usavam uniformes.”

“A mulher que recebeu o órgão também estava lá com sua família. Não nos falamos.

“Tive muito medo, mas os médicos me deram anestesia e eu apaguei. Acordei em uma outra fazenda. Meu rim não estava mais lá.”

“A compradora queria vida e eu, dinheiro”, afirma.

O relato não pode ser confirmado pela BBC de forma independente.

Estilo militar
Mas ele ilustra o mercado ilícito em que os traficantes usam táticas de estilo militar para se manterem ocultos.

Quem não pretende comprar um órgão ilegalmente é Li Haiqing – cujo irmão recebeu o rim da mãe.

Ele está desesperado por um transplante, mas diz que só aceitará um órgão obtido de forma legal.

Enquanto espera, precisa ir ao hospital fazer hemodiálise três vezes por semana.

A vida de Haiqing está parada. Ele sonha em abriu um negócio de sucesso no futuro, mas sabe que o sonho pode nunca se tornar realidade.

Como muitos outros, teme morrer antes de conseguir um transplante.

G1

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