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A conta não bate

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publicado em 30/07/2015 às 14h01

A matemática é a ferramenta mais eficiente que o homem dispõe para transitar pelas complexidades e dificuldades da existência. É uma espécie de bússola da humanidade com múltiplas aplicações – desde o mapeamento das populações até o cálculo da trajetória da bola chutada pelo artilheiro em direção ao gol.

Os matemáticos, porém, não têm todas as respostas. Duvido que algum deles consiga, por exemplo, fechar a equação que envolve a conquista de um diploma eleitoral.

Como empresário, também já fiz essa conta inúmeras vezes.

Jamais, porém, cheguei perto de um resultado satisfatório para a seguinte questão: por que se investe tanto em campanhas se os dividendos (que retornam na forma de salários, hoje de R$ 33,7 mil mensais no caso de um deputado federal) ficam aquém das vultosas somas mobilizadas na eleição?

Não se trata de uma operação complexa, na verdade. A base dela é o salário bruto do cargo, multiplicado por 12 meses. O resultado é multiplicado por 4, tempo atual dos mandatos.

A eleição de um deputado federal na Paraíba, contudo, custa entre 1 e 3 milhões de reais conforme dados disponibilizados pelos próprios candidatos à Justiça eleitoral.

A conta, portanto, simplesmente não bate.

A despeito disso (aumentando ainda mais o mistério), muitos continuam a se embrenhar nessa aventura, gastando mais a cada nova eleição.

Quando a matemática não consegue explicar, sobram as hipóteses e elucubrações.
Tenho – ou tinha – muitas delas. Algumas ingênuas, confesso.

A primeira delas é de origem vocacional. Algo como o sacerdócio, que se abraça por chamamentos interiores impossíveis de calar.

Ainda me iludi pensando que essa imersão era motivada por sentimentos menos nobres, a exemplo da vaidade. Para alguns, poderia ser imperioso o prazer de ocupar determinados cargos, cercados por status.

Também já imaginei (e essa é a mais ingênua de todas), que trata-se do desejo de praticar o bem comum. Afinal, estamos em uma Res Pública, a coisa do povo ou coisa pública, como idealizou o pensador Marco Túlio Cícero.

De pesadelo em pesadelo, porém, estamos sendo apresentados à verdade que a matemática não ousa computar:

Do mensalão à lava-jato, bilhões chegam às mãos de vossas excelências, mergulhadas em um antro de rasteira promiscuidade.

E é por meio desta relação promiscua e viciada que todos os esforços e gastos se justificam. Aliado ao fato de que, no final, colidem com a branda penalidade prevista, no Brasil, para os brasileiros que roubam o dinheiro da nação.

A dosimetria aplicada para punir não é, nem de longe, proporcional ao tamanho do dolo praticado. É como combater câncer com analgésico.

Do jeito que punimos nossos corruptos, não estamos conscientizando que não se deve roubar. Pelo contrário. Estamos estimulando. E as reincidências provam isso, matematicamente.

Tipificar a corrupção como crime hediondo ajuda. Mas só se a lei for realmente aplicada. Caso contrário, continuaremos assistindo “cidadãos” cumprindo penas domiciliares, deitados em suas camas forradas por cédulas desviadas dos cofres públicos.

Enfim, algo decisivamente precisa ser feito.

Ou será impossível calcular o volume desse mar de lama que insiste em banhar o Brasil.

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