João Pessoa, 24 de maio de 2015 | --ºC / --ºC Dólar - Euro

ÚltimaHora

Fragilidade

Comentários: 0
publicado em 24/05/2015 às 10h32

O homem precisa de referências. E é por isso que colecionamos heróis ao longo da vida. De preferência os de natureza superlativa:

Super fortes, super corajosos, super inteligentes.

Na minha juventude, a supremacia vestia capa vermelha, voava pelos céus, mudava o curso da história e tinha a aparência de Christopher Reeve.

E ele não povoava (e povoa) as mentes da meninada sem razão.

O Super-Homem atravessou décadas alucinantes de revolução tecnológica resistindo à obsolescência.

Isso se deve, em primeiro plano, ao fato de que sempre prescindiu de aparatos externos. Seu corpo era sua arma. Um equipamento biológico perfeito capaz de voar, destruir exércitos, impedir a colisão do colossal asteroide que extinguiria a vida na Terra.

Mais tarde, a mente fantasiosa do menino Roberto deu lugar ao fã da velocidade, que se emocionava com as heroicas performances de Ayrton Senna e Michael Schumacher pelas pistas do mundo.

Senna e Schumacher também voavam. E demonstravam destemor em alta voltagem.

Os três – Reeve, Senna e Schumi – me inspiraram ao longo da vida. E continuam a ensinar importantes lições com suas tragédias pessoais. A principal delas é que até os super-heróis são vulneráveis e suscetíveis.

O Super-Homem caiu do cavalo – literalmente. Saiu para dar um passeio e voltou tetraplégico, incapaz de impedir o ataque de uma mosca. E ainda que só desempenhasse papel cênico na saga literária do homem de aço, o ocaso de Reeve sinalizou (para muitos de seus fãs) também a decadência de Clark Kent.

Já Senna foi abatido pela barra da direção, desprendida no choque contra a mureta da curva Tamburello. E Schumacher, por sua vez, se põe lentamente no horizonte de sua trajetória heroica.

O piloto que tantas vezes desafiou a morte foi vencido por um detalhe: uma câmera acoplada ao seu capacete para registrar sua descida de esqui dos Alpes Franceses pode ter amplificado o impacto do acidente. E tornado sua enfermidade irreversível, o que afugenta patrocinadores e encolhe sua fortuna.

Se uma minúscula peça metálica breca Schumi e sepulta Senna e um equino pisoteia o homem mais forte do mundo, os homens normais se encolhem. E quedam, assustados, diante da constatação: como somos frágeis!

De herói em herói, vivi o suficiente para admitir: extraordinários ou ordinários, nenhum de nós está imune a insustentável fragilidade do ser.

Leia Também